“Um Estado totalitário verdadeiramente eficiente seria aquele em que os chefes políticos de um Poder executivo todo-poderoso e seu exército de administradores controlassem uma população de escravos que não tivessem de ser coagidos porque amariam sua servidão. Fazer com que eles a amem é a tarefa confiada, nos Estados totalitários de hoje, aos ministérios de propaganda, diretores de jornais e professores.” – ALDOUS HUXLEY, 1946
por Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro
Dentre as obras seminais na história da literatura de ficção científica no século XX, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, é uma das que mais merece ser revisitada. Marco não apenas do sci-fi como gênero literário, mas de toda a literatura inglesa do século XX, centra-se na descrição de um Estado aparentemente utópico: uma Civilização de tecnologia ultra-avançada, que se gaba de suas proezas de engenharia genética, estabilidade social, condicionamento neo-pavloviano do comportamento, divertimentos eletrônicos multimídia e paraísos artificiais disponíveis com a ingestão de poucos gramas de soma (“dez centímetro cubículos vencem mil pensamentos lúgubres”, escreve Huxley descrevendo a wonderdrug da época).
O estilo de sci-fi nesta obra de Huxley é inteiramente terreno: não há aliens, nem OVNIs, nem colonização de outros planetas. As estrelas distantes mal aparecem na trama. Trata-se, para Huxley, de imaginar o futuro da Terra, tentando prever alguns dos perigos que nos ameaçam, mas também refletir sobre potenciais e esperanças que o presente encerra em seu ventre grávido de futuros. Trata-se, antes de mais nada, de fazer soarem os alarmes e denunciar os perigos de uma Utopia pretensamente tão bela, mas que revela uma podridão em seu âmago.
A Utopia, em Brave New World, é mais vilã do que mocinha. A epígrafe, de autoria do filósofo russo Nicolas Berdiaeff, lança-nos a um estranho problema em relação à utopia: “Comment éviter leur reálisation définitive?” [“Como evitar sua realização definitiva?”] Ou seja: evitar a utopia, ao invés de abraçá-la, passa a ser o ideal.
Huxley, como quem arranca um Véu de Maya que encobria os olhos da Utopia, cegando-a para sua própria obscenidade e terror, realiza em Brave New World uma distopia – ou seja, uma inversão da utopia, quase que uma Nietzschiana “reviravolta de todos os valores”. O que é cultuado como ídolo sofre a revolução que o torna desdenhável como um cisco no olho, impeditivo da lúcida visão. O adorável mundo novo revela-se como um grotesco escândalo para o Selvagem que é triturado por suas engrenagens grotescas. O romance de Huxley, portanto, longe de ser uma celebração entusiástica do “utopismo”, é uma denúncia satírica dos perigos que se escondem nas tentativas humanas de criar sociedades perfeitas.
Huxley parece querer nos mostrar que sempre há um certo descompasso entre o desenvolvimento tecnológico e a antiquíssima confusão, indecisão e discórdia humanas quanto aos sentidos-da-vida. Não há unanimidade entre a humanidade sobre qual seria o “Objetivo Último” dela mesma.
Uns isolam-se em eremitérios na mata, procurando por sabe-se-lá que epifanias místicas, enquanto outros tornam-se homens-de-multidão, animais-de-manada, incapazes de suportar um grama que seja de solidão… Enquanto uns vão a missa e se mortificam, outros enchem a cara e caem na esbórnia; uns entram para mosteiros, outro viram militantes políticos; uns são carnívoros inveterados, outros vegetarianos convictos; há monogâmicos, adúlteros, polígamos, pedófilos, orgiásticos, perversos, celibatários, indecisos; há apolíneos, dionisíacos, socráticos, epicuristas, estóicos, pirrônicos, marxistas, nazis, céticos, agnósticos, fanáticos…
Uma utopia intenta acabar com a imperfeição de tudo o que é humano e instaurar uma sociedade homogênea, harmoniosa, em paz consigo mesma. O “estado” que a Utopia aspira a instaurar no Real consiste num estado de estabilidade, equilíbrio, estase. Uma vez concretizada a utopia, é como se as rodas da História cessassem de girar, como se a sociedade atingisse um ponto ótimo a partir do qual pode abandonar-se calmamente às delícias da inércia.
Em Admirável Mundo Novo, Huxley pinta o retrato de uma sociedade utópica onde “homens e mulheres padronizados, em grupos uniformes”, saem dos frascos das incubadeiras e laboratórios de eugenia absolutamente idênticos uns aos outros, produzidos em série como bichos-de-pelúcia ou automóveis.
A perversidade do sistema econômico é escancarada por Huxley: as castas inferiores, os Ípsilons, são literalmente criados em laboratório e têm seus fetos judiados por procedimentos malignos: seus embriões recebem injeções de álcool e outras substâncias desestabilizantes, a fim de que nasçam semi-aleijados, com retardamentos mentais, crippled for life. “Quanto mais baixa é a casta… menos oxigênio se dá.” (p. 42) “Todo o pessoal de uma pequena usina constituído pelos produtos de um único ovo bokanovskizado”: “o princípio da produção em série aplicado enfim à biologia”! (p. 32)
Já os ministérios desta sociedade – como os da Predestinação Social e do Condicionamento Emocional… – são todos centrados em eliminar da vida social o imprevisível, programar corações e mentes para que ajam sempre da maneira desejável, sem indesejáveis desvios de conduta. Em Brave New World vigora o Império da Normopatia: os normais têm direitos de imperadores diante dos destoantes, dos anormais, dos desviantes, dos transviados, dos indivíduos demasiado… individualizados.
A utopia quer que cada indivíduo seja uma peça intercambiável de uma maquinaria social maior que ele; e uma peça que, ao quebrar, pode ser facilmente substituída por outra. Esta utopia deseja homens que ajam como abelhas na colméia, formigas num formigueiro. E além do mais esforça-se para que… amemos nossa servidão, nosso sacrifício, nossa auto-imolação nos altares do coletivo!
Que uma norma-de-conduta, imposta pelos poderosos de cima para baixo, seja aceita por toda uma sociedade… eis o sonho utópico cuja tentativa de edificação já fez nascerem tantos totalitarismos. O reinado da Utopia é um Absolutismo Moral. E absolutistas morais podem ser tanto os crentes quanto os ateus: de Hitler a Stálin, os utopistas muitas vezes derramam o sangue dos vivos em nome dos amanhãs cantantes. Se o fim da supremacia racial ariana pondo sob seu domínio toda a Europa, ou se o fim da abolição da sociedade cindida em classes em prol do comunismo-de-Estado, servem como justificação absoluta para a utilização de todos os meios, as estradas estão abertas para as barbáries mais atrozes…
Huxley também nos narra um obsceno sequestro da infância para fins de lavagem cerebral e programação comportamental. Ao invés de leite materno, os bebês bebem uma “secreção pasteurizada” (p. 232). Ao invés de crescerem no ventre das mães, amadurecem na penumbra subterrânea de um laboratório científico, dentro de frascos, rolando linha-de-montagem abaixo na industriosa fábrica-da-vida. Ao invés de irem à escola, vão ao centro de Condicionamento, onde são soterrados debaixo da repetição de slogans e programas-de-comportamento que visam a regular, controlar e submeter o trabalho e o lazer, a moral e a sexualidade, o misticismo e a criação.
A sociedade que nasce disto é uma em que os cidadãos foram ensinados a crer que “não há crime mais odioso do que a falta de ortodoxia na conduta” (p. 233). Morte à imprevisibilidade e à experimentação lúdica! Seguir em trilhos de ferro com o trem de opiniões tão convictas que nenhum vento de argumento as abale.
Não há respeito pela diferença nesta sociedade: tudo que foge à normalidade, qualquer um que recuse-se a vestir o uniforme, que não queira “fazer como faz todo mundo”, que se negue a ser uma “mariazinha-vai-com-as-outras”, que se revolte contra seu destino de “animal de rebanho”, como diria Nietzsche, este é estigmatizado e perseguido pelos poderes sacerdotais e políticos que gerem esta República da Homogeneidade.
Bernard Marx, no livro de Huxley, é condenado ao exílio na Islândia, tratado como um pária e um subversor (p. 234), por ousar destoar da normalidade civilizada. É ele uma espécie de homenagem de Huxley a estas figuras heróicas que ousam “desafinar o coro dos contentes”, para relembrar um verso de Torquato Neto, através da afirmação de uma individualidade, por mais imperfeita e dissonante que soe.
Em prol da estabilidade social, ou seja, para que não surjam desníveis entre os indivíduos, o Estado proclama uma lei que… proíbe Shakespeare! Que bane Beethoven! Que lança a filosofia na lata de lixo da História! De agora em diante, só se ensinará nas escolas, e só se doutrinará na mídia, sobre assuntos que dizem diretamente respeito à utopia da Estabilidade! Tudo será dito e tudo será feito em nome desta estabilização… “Não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum dos seus reflexos.” (p. 55)
O condicionamento neo-pavloviano, os ovos bokanovizados, a hipnopedia, a ração diária de soma, a garantia de deleites sensórios no Cinema Sensível, tudo são torrões de açúcar dados pelo Estado para que cada casta sinta-se feliz com o status quo que lhe foi… predestinado.
“A flor do campo e as paisagens têm um grave defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas: abolir o amor à natureza…” (p. 56)
“Cada um pertence a todos…” Esta é outra das doutrina enfiada na mente de todas as crianças, repetida milhares de vezes nos ouvidos das mentes hipnotizadas dos fedelhos, como se fosse a verdade absoluta e última sobre a afetividade e a sexualidade humanas: “ninguém é dono de ninguém!” Huxley problematiza (e isso umas três décadas antes do Movimento Hippie começar a despontar!) a questão do amor supostamente livre que estaria na ausência completa de vínculos duráveis.
” – Felizes jovens! – disse o Administrador. – Nenhum trabalho foi poupado para lhes tornar a vida emocionalmente fácil, para os preservar, tanto quanto possível, até mesmo de ter emoções.” – pg. 85
Brave New World contêm a descrição de baladas daquelas no Mundo do Futuro: regadas à embriaguez ocasionado pelo soma, que talvez não seja lá muito diferente daquela que o ecstasy ocasiona aos ravers de hoje em dia, estas baladas são orgias de pisoteação do dogma destronado, pisoteado e posto fora-de-cartaz do casamento monogâmico. Esta instituição social desapareceu por completo deste Admirável Mundo Novo onde as crianças não nascem mais de uma noite-de-amor entre seu pai e sua mãe, mas sim enfrascadas em provetas, desenvolvidas tubos de ensaio, rolando nos trilhos de ferro de uma linha-de-montagem… Huxley e seu pesadelo sinistro!
Pois nada desestabiliza mais uma sociedade humana dos que as paixões destas criaturas passionais que somos. Não são necessariamente assim inquietas as forças vitais, não é essencialmente móvel o élan que nos anima? E os utopistas sonham com um coração em descanso. Com uma paz de impossível remanso. Que a correnteza não mais nos arrastasse, que paixões não mais nos inundassem, que tudo quedasse… estável e sereno. Sem correria nem esforço, sem insatisfação nem desejo. “No alarms and no surprises”, como canta Thom Yorke. Um coletivo em Nirvana.
O triste na condição existencial dos Alfas, Betas, Deltas, Gamas e Ípsilons de Huxley é que nenhum deles “podia ter idéias verdadeiramente singulares”. Seus cérebros foram cuidadosamente construídos e programados no sentido da obediência estrita a regras, padrões de comportamento, fés inquestionadas. E se há algo de heróico em Bernard Marx e seu amigo Helmholtz, está no fato de que eles “recusavam-se a abandonar o direito de criticar essa ordem” (p. 246).
Muitos dos males que hoje são presenças prementes em nossa realidade, como a obsolescência programada, já eram prefigurados por Huxley nesta sociedade que imaginou como descartando sem fim. A prática do descartismo é descritível na imagem de pessoas, em massa, jogando meias no lixo ao primeiro desfiado, condicionadas a seguir como preceito-de-vida que “mais vale dar fim que consertar” (p. 95).
Como atingir esta beatitude política que a Utopia encerra em sua imagem idealizada? Doutrinação ideológica, desde o berço; condicionamento severo de condutas; muita disciplina social e muito controle; eis aí os caminhos para a concretização do estado utópico! Que cidadão ousará discordar da veracidade absoluta de um slogan que lhe foi martelado na consciência 62 milhões de vezes?
Um tal papaguear ideológico é capaz de reduzir um cérebro mirim a uma papa de imbecilidade. Brave New World é o retrato de uma sociedade de submissos imbecis que sorriem tolamente dentro de uma sociedade de castas altamente injusta e hierarquizada. Uma sociedade que não se revoluciona pois todo mundo está tão dopado e reduzido à apatia normopata que não há disposição para a luta, para a mudança, a tentativa de novas vias.
Aqueles que buscam trilhar novas vias, ou que são arrastados, a despeito de si mesmos, para caminhos interditos e conclusões proibidas, são tratadas pelos Poderes Reinantes como perigosos párias que merecem ser mandados para uma ilha na Islândia… O stalinismo exilando oponentes políticos para a Sibéria é um exemplo histórico suficiente para mostrar o quanto Huxley, em sua obra de ficção científica, teve refinadíssima percepção da realidade histórica (inclusive em seus desdobramentos futuros)! Talvez por isso Admirável Mundo Novo seja uma obra literária à qual tão bem cabe o adjetivo honroso de visionária e que, escrita em 1930, segue nos provocando às vésperas de 2030!
Esta obra-prima na literatura do século 20 nos serve como permanente alerta sobre perigos que rondam a Humanidade prometéica que busca, através da intervenção técnico-científica, construir uma utopia com a utilização da eugenia, das drogas estupefacientes e do controle social hierárquico rígido. Politicamente, é uma denúncia do que hoje se conhece por Estado Totalitário, mas sobretudo uma cautionary tale a respeito das atrocidades inerentes a um sistema de castas rigidamente separadas pela sua própria produção tecno-biológica – neste sentido, pode entrar em diálogo fecundo com toda a problemática dos andróides, que na obra de Philip K. Dick adaptada ao cinema por Ridley Scott, revoltam-se contra seus criadores por julgarem insuportável seu destino como escravos-de-casta.
Além de provar que a ficção científica está apta a refletir sobre os rumos e descaminhos da Humanidade, pintando retratos de outros mundos possíveis onde nossa espécie se afunda em abissais poços de confusão e ignorância, angústia e guerra, domínio totalitário e opressão generalizada, tornando o indivíduo uma espécie de joguete de forças maiores desde “seu primeiro vagido de horror e espanto” (p. 231).
Por Eduardo Carli De Moraes || A Casa de Vidro
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“Lembremos que utopia significa em parte alguma”, escreve Cioran no capítulo “O Mecanismo da Utopia” de seu livro História e Utopia. “E de onde seriam essas cidades que o mal não toca, onde se glorifica o trabalho e onde ninguém teme a morte? Nelas nos vemos obrigados a uma felicidade feita de idílios geométricos, de êxtases regulamentados, de mil maravilhas repugnantes: assim se apresenta necessariamente o espetáculo de um mundo perfeito, de um mundo fabricado.” (CIORAN: 2011, p. 92)
Com uma ironia pontiaguda em sua pena, Cioran desdenha dos utopistas através da História, a começar por Platão e sua Politéia (A República), passando pelas fantasias renascentistas como Cidade do Sol de Campanella, chegando finalmente a disparar suas diatribes contra os socialistas utópicos como Cabet e Fourier:
“O que mais impressiona nos escritos utópicos é a ausência de perspicácia, de instinto psicológico. Os personagens são autômatos, ficções ou símbolos: nenhum é verdadeiro, nenhum ultrapassa sua condição de fantoche… No ‘estado associado’ de Fourier, as crianças são tão puras que até ignoram a tentação de roubar, de ‘pegar uma maçã numa árvore’. Mas uma criança que não rouba não é uma criança. Que sentido tem formar uma sociedade de marionetes? Recomendo a descrição do Falanstério como o mais eficaz dos vomitivos.” (op cit, p. 95)
O notório pessimista Cioran, que segue nas pegadas de Schopenhauer e de Diógenes de Sínope, enxerga na literatura utópica uma galeria de miopias e tolices, fantasias irrealizáveis onde o mal foi vencido e todos os seres humanos vivem em feliz concórdia: “aí as trevas estão proibidas, só a luz é admitida… Hostil à anomalia, ao disforme, ao irregular, tende para o fortalecimento do homogêneo, do modelo, da repetição e da ortodoxia. Mas a vida é ruptura, heresia, abolição das normas da matéria.” (p. 95)
A distopia é a utopia às avessas. Na história da cultura humana, as obras-de-arte distópicas revelam sociedades onde o Bem não pôde triunfar, onde a promessa de Progresso não foi cumprida, ou onde a Concórdia entre os seres humanos revela-se como quimera sacrificada no altar da guerra e do morticínio. Os autores distópicos também costumam realizar obras com um tom desmistificador, como se quisessem ensinar, como diz o provérbio, que “de boas intenções o Inferno está cheio”.
A intenção do Estado Único em Nós, de Zamiátin, é a felicidade de todos os seus súditos, mas para este fim o Chefe de Estado, o Benfeitor, julga necessário o sacrifício da liberdade e a imposição de uma sociedade onde a vigilância dos cidadãos por parte dos Guardiões é extremada, como explicitado pelas casas de vidro onde todos vivem, 22 horas por dia, expostos aos olhares dos agentes estatais responsáveis pela conservação do ordem e dos bons costumes. A imposição de homogeneidade social também é explícita na Tábua das Horas, que impõe a todos os indivíduos os mesmos horários para todas as suas atividades, e no Dia da Unanimidade, denominação para o processo eleitoral onde todos votam em uníssono pela continuação do reinado do Grande Benfeitor e do Estado Único…
O utopismo pode, com frequência, tornar-se autoritário, ou mesmo, no limite, totalitário – por hostilidade à anomalia, por ódio aos desvios da norma, pode impor o mais cruel sistema para transformar as vidas humanas em algo moldado e enformado pelo poder central e seus agentes de concretização da utopia. Receita para a distopia real, pois, como argumenta Cioran, “a vida é ruptura, heresia, abolição das normas da matéria. E o homem, em relação à vida, é heresia em segundo grau, vitória do individual, do capricho, aparição aberrante, animal cismático que a sociedade – soma de monstros adormecidos – pretende reconduzir ao caminho reto. (…) Ao abolir o irracional e o irreparável, a utopia se opõe também à tragédia, paroxismo e quintessência da história. Qualquer conflito desapareceria em uma cidade perfeita; as vontades seriam estranguladas, apaziguadas e milagrosamente convergentes; reinaria somente a unidade, sem o ingrediente do acaso ou da contraição. A utopia é uma mistura de racionalismo pueril e de angelismo secularizado.” (CIORAN, p. 95-96)
CIORAN. História e Utopia. Trad. J Thomas Brum. Rocco: 2011.
HUXLEY. Brave New World.
VARGAS LLOSA. O Paraíso Na Outra Esquina.
Por Eduardo Carli para A Casa de Vidro
Publicado em: 03/05/18
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia